quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Da Duração das Obras
Algumas obras morrem porque nada valem;
estas, por morrerem logo, são natimortas
Outras têm o dia breve que lhes confere a sua expressão
de um estado de espírito passageiro ou de uma moda da sociedade;
morrem na infância.
Outras, de maior escopo, coexistem com uma época inteira do país,
em cuja língua foram escritas, e, passada essa época,
elas também passam; morrem na puberdade da fama
e não alcançam mais do que a adolescência na vida perene da glória.
Outras ainda, como exprimem coisas fundamentais da mentalidade do seu país,
ou da civilização, a que ele pertence, duram tanto
quanto dura aquela civilização;
essas alcançam a idade adulta da glória universal
Mas outras duram além da civilização, cujos sentimentos expressam.
Essas atingem aquela maturidade de vida que é tão mortal como os Deuses,
que começam mas não acabam, como acontece com o Tempo;
e estão sujeitas apenas ao mistério final que o Destino encobre para todo o sempre
Fernando Pessoa, in 'Heróstrato'
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